Produto ajuda a afastar mosquito, que é o vetor da doença. Piracicaba registrou morte por dengue e 1º caso de chikungunya neste ano. O g1 conversou com profissionais da saúde.
O uso de repelente é uma medida auxiliar para se evitar a propagação da dengue e de outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como zika, chikungunya e febre amarela urbana. E disso, as pessoas já devem saber.
A informação de que, mesmo infectado, o paciente precisa usar o produto para evitar o contágio, entretanto, não parece ser tão óbvia nem amplamente difundida.
Leia, abaixo, e entenda por que o repelente é um aliado no combate à dengue e descubra quais os melhores horários para usar o produto.
O g1 conversou com profissionais que atuam no atendimento médico, ações e políticas de prevenção e combate à dengue. Os especialistas reforçam, ainda que a forma mais eficaz de prevenir a doença é acabar com os criadouros do mosquito, mas apontam o repelente como uma estratégia de auxiliar e paliativa nesse processo.
Os repelentes agem nos receptores dos mosquitos, em suas antenas, e interferem no seu funcionamento. Isso impede que esses insetos reconheçam os cheiros que os guiam, por exemplo.
O médico Lucas Fernando Zorzetto, que atua em unidade básica do Sistema Único de Saúde (SUS), voltada à medicina da família e comunidade, no interior de São Paulo, destacou que a dengue não é uma doença propagada de pessoa para pessoa, diretamente. Ela precisa de um vetor para isso, que é o mosquito aedes Aedes aegypti.
O profissional também reitera que, apesar de ser uma ação complementar, o uso do repelente por pacientes com a dengue – ou com suspeita de contágio – é importante porque ajuda a afastar o mosquito, que é o vetor da doença, ao ser humano, o hospedeiro.
O médico reforça que é preciso eliminar os criadouros do mosquito. Veja, ao final da reportagem, mais detalhes e formas de prevenção.
“O uso do repelente é válido para evitar que um mosquito não infectado se contamine com o sangue de uma pessoa com dengue no período de viremia, que é fase compreendida, geralmente, de um dia antes do aparecimento da febre e dos primeiros sintomas até o sexto dia da doença”, salientou Zorzetto.
O uso do repelente, ainda que não integre medidas de base no combate à dengue, tem sua função nesse processo. “Porém, muitas vezes, a prática tem sido deixada de lado ou esquecida, inclusive por médicos, quando a orientação do uso do produto não é dada ao paciente no momento oportuno”, alertou o profissional.
“Quando aplicamos o repelente, ajudamos a diminuir as chances de contágio. O produto exerce papel importante no bloqueio da transmissão do DENV, o vírus da dengue. Funciona como uma barreira que impede o mosquito de chegar ao hospedeiro, que é o ser humano”, comparou.
Fêmea do mosquito
O médico ressalta que para compreender a importância do uso do repelente, é preciso conhecer como funciona o processo de contágio da doença, que se dá pela fêmea do mosquito.
Zorzetto explica que a transmissão do vírus, do ser humano para o mosquito, ocorrerá enquanto existir a presença de agente infeccioso no sangue da pessoa, o chamado período de viremia. E, nesse caso, se o paciente infectado fizer uso de repelente, ele ajudará a impedir que o mosquito o pique e leve a doença para outras pessoas posteriormente.
“A transmissão da dengue, zika e chikungunya ocorre quando a fêmea do mosquito Aedes aegypti, que é hematófoga [se alimenta de sangue], pica o ser humano que está contaminado em período de viremia, quando o vírus está se multiplicando no hospedeiro”, detalhou.
Dessa forma, explica o médico, a fêmea também se contamina e o vírus se multiplica nela. “Após oito a 12 dias, a fêmea do mosquito é capaz de transmitir a doença até o final da vida do inseto, que pode durar em média de seis a oito semanas”, disse.
Zorzetto salienta ainda que, por medidas de segurança, a recomendação é que a população use repelentes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Dengue: veja como evitar, quais os sintomas, cuidados e tratamento
Animal que mais mata no mundo
O ecólogo e coordenador do Plano Municipal de Controle do Aedes (PMCA) em Piracicaba ( SP), Sebastião Amaral Campos ressaltou que o pernilongo é o animal que mais mata no mundo, principalmente nos países tropicais como o Brasil, com clima quente e úmido.
“O repelente é um complemento às medidas de combate ao mosquito da dengue. O produto ajuda, colabora, mas não resolve. A melhor forma de fazer isso é eliminar os criadouros, que estão justamente dentro de nossas casas. O pernilongo é endêmico em regiões tropicais e sempre vai existir, principalmente na época de verão”, enfatizou.
Repelentes: onde e quando passar?
Sebastião Amaral Campos explicou que o uso de repelentes, principalmente aqueles em base cremosa, devem ser aplicados na pela durante o dia porque o mosquito Aedes tem hábitos diurnos.
A orientação é o produto seja aplicados em pontos do corpo que ficam mais expostos, como tornozelos, braços, pernas, peitos dos pés.
Mosquito da dengue: age de dia e busca o escuro
Os produtos em spray para ambientes e/ou aerossol também devem ser aplicados durante o dia em locais escuros das residências ou espaços de trabalho, debaixo de móveis e atrás de portas, por exemplo.
“É sempre importante espirrar embaixo das camas, de sofás, escrivaninhas, atrás de guarda-roupas e espaços mais escuros”, exemplificou o coordenador.
Amaral orienta que não é interessante usar o repelente aerossóis à noite para evitar contaminação e/ou intoxicação. À noite, a recomendação é se use repelentes elétricos, em caso de necessidade. Os dispositivos devem ficar a dois metros de distância de camas, por exemplo.
Como agem os repelentes?
Mutirão e prevenção
A secretaria também reforçou o pedido para que a população adote medidas de prevenção contra o mosquito, principalmente até o fim de maio, mês que ainda está dentro do período considerado mais crítico da doença.
Veja algumas das orientações:
Utilize telas de proteção com buracos de, no máximo, 1,5 milímetros nas janelas de casa;
Deixe as portas e janelas fechadas, principalmente nos períodos do nascer e do pôr do sol;
Mantenha o terreno limpo e livre de materiais ou entulhos que possam ser criadouros;
Tampe os tonéis e caixas d’água;
Mantenha as calhas limpas;
Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
Mantenha lixeiras bem tampadas;
Deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
Limpe todos os acessórios de decoração que ficam fora de casa e evite o acúmulo de água em pneus e calhas;
Coloque repelentes elétricos próximos às janelas – o uso é contraindicado para pessoas alérgicas;
Velas ou difusores de essência de citronela também podem ser usados;
Evite produtos de higiene com perfume, pois podem atrair insetos;
Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa
Primeiro caso de febre chikungunya em Piracicaba
O Departamento de Vigilância Epidemiológica (VE) de Piracicaba (SP) confirmou o primeiro caso de febre chikungunya na cidade no último dia 12 de maio. A paciente tem idade entre 60 e 69 anos e já está curada da doença. Veja, abaixo, as diferentes entre dengue e a febre chikungunya.
Segundo a prefeitura, a paciente viajou para o estado de Minas Gerais. Em abril, retornou para casa e presentou sintomas da doença.
Primeira morte por dengue em 2023
O Departamento de Vigilância Epidemiológica (VE) de Piracicaba (SP) informou a primeira morte por dengue na cidade, no último dia 3 de maio. O óbito ocorreu no mês de abril e a paciente é uma mulher com faixa etária de 70 a 79 anos. A última morte pela doença havia sido registrado em julho de 2022.
Piracicaba tem média de 7 casos de dengue por dia em 2023
Piracicaba (SP) registrou, entre os dias 1º de janeiro e 25 de abril deste ano, 817 casos de dengue, segundo balanço mais recente divulgado pela Vigilância Epidemiológica. Isso quer dizer que, em média, sete moradores contraíram a doença por dia na cidade.
De acordo com o levantamento da Secretaria de Saúde, o total de casos já contabilizados nos quatro primeiros meses de 2023 representa um aumento de 15,8% em relação ao mesmo período de 2022, quando foram 705 infecções. Em ambos os recortes, não houve mortes.
Apesar da alta, a situação encontra-se bem mais sob controle do que em 2021, época em que a cidade teve uma explosão de casos e entrou em epidemia. Somente de janeiro a abril daquele ano, houve 3.869 diagnósticos positivos.