Nos últimos anos, o número de fintechs no Brasil explodiu. A promessa de disrupção no setor financeiro trouxe agilidade, novos serviços e inclusão digital. Mas, por trás das boas ideias, muitos negócios acabam enfrentando sérios desafios para se manterem sustentáveis no longo prazo.
Conversamos com Robson Gimenes Pontes, especialista em estratégia e estruturação de negócios financeiros, para entender quais os erros mais comuns cometidos por fintechs em rápida expansão — e como evitá-los.
O crescimento das fintechs é algo positivo, mas também tem gerado riscos?
Robson Gimenes Pontes: Sem dúvida. O crescimento rápido por si só não é um problema — o problema é quando ele acontece sem sustentação. Já vi fintechs dobrarem de tamanho em um ano, mas quebrarem no ano seguinte porque não tinham estrutura para lidar com o volume, a regulação ou a expectativa do mercado.
Quais são os erros mais frequentes nesse processo de escalada?
Robson: Existem vários, mas três me chamam muita atenção:
Desorganização regulatória: muitas empresas não investem em compliance desde o início e sofrem sanções graves depois.
Falta de planejamento de capital: crescem demais, sem garantir o funding necessário para manter a operação saudável.
Gestão ineficiente de times: contratam rápido demais e não desenvolvem uma cultura sólida, o que prejudica a entrega.
A pressão por captar investimento pode agravar esses problemas?
Robson: Sim. A captação de investimento é uma faca de dois gumes. Se feita no momento certo, impulsiona o negócio. Mas se for forçada, pode levar a decisões ruins. Já vi empresas mudarem completamente sua estratégia só para agradar um fundo, e acabarem perdendo sua identidade.
Como evitar isso?
Robson: Estruturando bem a base antes de buscar crescimento. Isso significa:
Ter uma operação bem mapeada e escalável;
Conhecer o próprio cliente profundamente;
Adotar tecnologias que acompanhem o ritmo de expansão;
E principalmente: manter a saúde financeira com controles muito claros.
A regulamentação tem sido um gargalo?
Robson: Não diria gargalo — diria alerta. O Banco Central tem feito um trabalho importante, mas muitas fintechs ainda encaram a regulação como obstáculo, quando deveriam vê-la como aliada. Se você segue as regras desde o começo, tem vantagem competitiva no futuro.
Quais os diferenciais de uma fintech que sobrevive e prospera?
Robson: Resiliência, visão de longo prazo e capacidade de adaptação. As empresas que vencem nesse mercado não são as que têm apenas uma ideia boa, mas as que conseguem entregar valor de forma consistente, aprendendo com os erros e evoluindo rápido.
Para quem está começando agora nesse mercado, qual seu principal conselho?
Robson: Invista tempo em entender o seu modelo de negócio de verdade. Não copie o que está dando certo lá fora. O Brasil tem suas próprias características. Quem conhece o público, respeita a regulação e entrega com qualidade, sempre sai na frente.
Autor : Oleg Volkov